A precariedade das condições de segurança nas agências causou a morte de 18 pessoas nos primeiros nove meses deste ano, o que representa uma média de duas mortes por mês. São sete vigilantes, um bancário, seis clientes e outras pessoas que perderam a vida em ações de criminosos envolvendo bancos que deixam a proteção da vida em segundo plano, uma vez que priorizam a defesa do seu patrimônio, na visão de aumentar ainda mais os seus lucros.
Dentre as ocorrências, encontram-se sete golpes de saidinha de banco. Trata-se de um crime que começa dentro das agências e, por isso, também precisa ser combatido pelos bancos, através do reforço dos equipamentos de prevenção, incluindo procedimentos que dificultem a visualização das operações dos clientes nos caixas.
“Essa pesquisa feita pela Contraf-CUT com base em notícias da imprensa comprova o descaso e a escassez de investimentos dos bancos em medidas e equipamentos de prevenção contra assaltos e seqüestros, tornando vulneráveis os seus estabelecimentos e expondo ao riso a vida de bancários, vigilantes, clientes e usuários, além de transeuntes e outras pessoas que acabam sendo vítimas das quadrilhas”, alerta Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional dos Bancários.
“Os bancários estão em greve nacional desde a última quarta-feira, dia 29 de setembro, buscando não somente aumento real de salários, PLR e pisos maiores, mas também melhores condições de trabalho, o que passa pelo fim do assédio moral e das metas abusivas e pela melhoria das instalações e procedimentos de segurança”, ressalta o dirigente sindical. “A vida das precisa ser colocada em primeiro lugar”, aponta Carlos Cordeiro.
Veja as mortes ocorridas nos primeiros nove meses deste ano:
1. O vigilante Nelson Nunes Reis, 34 anos, foi baleado no tórax e morreu a caminho do hospital durante assalto ao posto do Banco do Brasil no Multishop, no bairro da Boca do Rio, em Salvador. O crime ocorreu no dia 24 de fevereiro.
2. Um bancário foi morto em assalto a uma agência do Bradesco em Santa Luzia do Paruá, no interior do Maranhão, no dia 2 de março. Houve tiroteio e, segundo a polícia, oito morreram. Um deles era caixa na agência e sete seriam assaltantes. Uma gerente ainda ficou ferida e clientes foram feitos reféns.
3. O vigilante Daniel Oliveira de Lima, 40 anos, funcionário da empresa de transporte de valores Proforte, foi morto no dia 6 de abril, quando fazia manutenção do caixa eletrônico do Banco do Brasil num posto de combustível na Avenida Inglaterra, centro de Cambé (PR). Segundo a polícia, um trio chegou armado e deu voz de assalto ao vigilante. Houve tiroteio e a vítima morreu no local.
4. A cliente Lúcia Maria de Carvalho Ramos, de 60 anos, foi morta a tiros no dia 12 de abril durante uma “saidinha de banco” no Grajaú, Rio de Janeiro. A vítima teria sacado R$ 10 mil numa agência bancária e foi seguida pelos criminosos. Ao ser abordada, resistiu em entregar sua bolsa e foi baleada.
5. O transeunte Antônio Carlos Mota morreu depois de tiroteio em frente à agência do Santander na Sete de Setembro, em Recife, no dia 14 de abril. Dois motoqueiros tentaram assaltar um cliente, que ia ao banco efetuar um depósito com malote. O cliente resistiu e houve troca de tiros. Um deles acertou o transeunte, que morreu na hora. A vítima era presidente da Escola de Samba Unidos de São Carlos, de Afogados.
6. O cliente Osvaldo da Silva, de 56 anos, foi assassinado em um assalto na saída de uma agência do BRB em Taguatinga, Distrito Federal, no dia 3 de maio. Após fazer um saque na agência, o correntista foi seguido até um estacionamento próximo, onde foi abordado. Osvaldo reagiu, levou dois tiros e morreu.
7. A economista Patrícia Martins Cardoso, de 48 anos, morreu no dia 4 de maio, depois de ser baleada durante um assalto conhecido como “saidinha de banco”. Ela acompanhava seu pai, que havia realizado saques em agências do BB e Caixa no bairro Gutierrez, em Belo Horizonte. Um homem armado levou a bolsa da vítima e atirou na fuga.
8. O operador de máquinas Valdecir Cordeiro foi baleado e morto em troca de tiros entre polícia e quatro assaltantes que invadiram um posto bancário do Banrisul no prédio anexo à prefeitura do município de Gramado dos Loureiros, no Rio Grande do Sul, no dia 2 de junho..
9. Durante o mesmo assalto em Gramado dos Loureiros, Alvino Machado, 51 anos, ex-prefeito da cidade, foi atingido na cabeça por uma bala. Ele foi levado para o hospital, onde faleceu no dia seguinte.
10. O vigilante Giovani da Fontoura Fagundes, 34 anos, foi morto no dia 7 de junho em assalto a um carro-forte da empresa Brinks. O ataque aconteceu no km 31 da rodovia Gramado-Três Coroas (ERS-115), em Gramado, na serrra gaúcha.
11. Um cliente foi morto no estacionamento da agência do Itaú Unibanco de Londrina, Paraná, no dia 16 de junho. Ele foi abordado e morto após realizar um saque na agência.
12. O cliente João Cachengo Júnior, de 45 anos, foi outra vítima do crime de saidinha de banco, no dia 2 de agosto. Era empresário musical e foi atingido por dois tiros quando saía de um banco na Rua Domingos de Moraes, na Vila Mariana, na Zona Sul de São Paulo. Segundo a polícia, ele havia acabado de sacar dinheiro na agência. Testemunha disse que viu uma moto com dois homens fugindo.
13. O vigilante Edvaldo Cícero Ambrósio Cunha, 29 anos, morreu na hora, depois de ser atingido por três tiros, sendo um em cada perna e o terceiro no peito, logo acima do colete à prova de balas, durante assalto no dia 16 de agosto, por volta das 10h, quando um carro-forte da Preserve chegava para abastecer a agência do Real., adquirido pelo Santander, em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana de Recife. Edvaldo era casado há um ano e não tinha filhos.
14. O vigilante Enir Nazareno Machado Júnior foi morto ao ser baleado durante roubo de malote dentro da agência do Banco do Brasil na Cidade Nova, em Ananindeua, no Pará, no início da noite de dia 9 de setembro. Ele foi baleado na cabeça com um disparo à queima-roupa ao tentar proteger um adolescente.Um bancário e um vigilante também se feriram.
15. O vigilante de carro-forte da Prosegur, Charles Mendes da Silva, 35 anos, que era chefe de equipe, foi morto na noite de sábado, dia 11 de setembro, em tiroteio com assaltantes na zona sul de São Paulo, durante abastecimento de caixa eletrônico num posto de combustíveis na estrada Guavirutuba, no Jardim Ângela, por volta das 19h, segundo informações da Polícia Militar.
16. O vigilante de carro-forte da Prosegur, Rogério Aparecido Vieira da Silva, 35 anos, também foi morto na noite de sábado, dia 11 de setembro, em tiroteio com assaltantes na zona sul de São Paulo, durante abastecimento de caixa eletrônico num posto de combustíveis na estrada Guavirutuba, no Jardim Ângela, por volta das 19h, segundo informações da Polícia Militar.
17. O cliente Carlos Alberto Santa Brígida do Nascimento, 64 anos, foi mais uma vítima fatal do crime de saidinha de banco. No dia 23 de setembro, ele sacou dinheiro numa agência do BB, na Rua 15 de Novembro, e foi seguido por dois bandidos, que estavam em uma motocicleta. O fato ocorreu no estacionamento do conjunto residencial Aloysio Chaves, no bairro do Jurunas, em Belém, no qual ele morava. Ele era prático e estava acompanhado do motorista Edson Roberto Monteiro, o qual afirmou para a polícia que trabalhava há 18 anos com a vítima.
18. O cliente Luiz Paulo Rodrigues da Silva, 39 anos, foi morto na manhã do dia 23 de setembro, numa saidinha de banco na Tijuca, no Rio de Janeiro. Ele havia acabado de sair de uma agência com R$ 8 mil quando foi abordado por um bandido na Rua Conde Bonfim, em frente ao número 220. Ele era agente penitenciário, reagiu, foi baleado e teria acertado um tiro no criminoso. O ladrão fugiu na garupa de uma moto sem levar o dinheiro, mas roubou a sua arma. Foi levado para o Hospital Panamericano, também na Tijuca, mas não resistiu.
Principais reivindicações da Campanha Nacional dos Bancários
Entre as principais reivindicações da segurança bancária estão assistência às vítimas de assalto e seqüestro, medidas de prevenção contra ataques a bancos e adicional de risco de vida.
Os bancários cobram assistência às vítimas de sequestros e a todos os que estiveram no local de assaltos, bem como atendimento médico e psicológico, fechamento da unidade no dia da ocorrência, emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e acompanhamento de advogado do banco para identificação de suspeitos na polícia.
Outra demanda é estabilidade provisória para vítimas de assaltos, seqüestros e extorsões no prazo de 36 meses depois da ocorrência. Em caso de processo judicial com decisão favorável ao bancário, esse prazo começaria a contar após o trânsito em julgado.
Medidas de prevenção também são destaques, como a necessidade de proibição do transporte de dinheiro e chaves de cofres por parte dos bancários, assim como equipamentos para evitar assaltos, como a porta de segurança com detectores de metais antes do autoatendimento, câmeras de filmagem com monitoramento em tempo real, vidros blindados nas fachadas, divisórias individualizadas na bateria de caixas e entre os caixas eletrônicos, instalação de vidros nos guichês de caixas e colocação de biombos entre a fila de espera e a bateria de caixas.
Os trabalhadores também reivindicam o pagamento do adicional de periculosidade ou risco de vida de 30% para os bancários que trabalham em agências, postos de serviço e tesouraria. A proposta foi lançada pelos vigilantes, uma categoria que ocupa o mesmo ambiente de trabalho dos bancários e que arrancou recentemente essa conquista, através de acordos coletivos em todo país e por meio de projetos de lei aprovados na Câmara dos Deputados e no Senado.
“Todas essas medidas reparatórias, preventivas e indenizatórias visam proteger a vida de bancários, vigilantes e clientes e evitar assaltos e seqüestros, bem como o golpe da saidinha de banco”, enfatiza o secretário de imprensa da Contraf-CUT e coordenador do Coletivo Nacional de Segurança Bancária, Ademir Wiederkehr.