Banco do Brasil, Caixa, Itaú e Bradesco concentram 75% do crédito

Carolina Mandl e Felipe Marques
Valor Econômico | De São Paulo

Cada vez mais recorrente, a queixa de empresários brasileiros sobre o pequeno número de bancos para se tomar linhas de crédito não é sem fundamento. Dados do Banco Central (BC) mostram que a concentração bancária vem avançando paulatinamente no Brasil atingiu um marco relevante neste ano.

Do estoque de crédito existente no país em junho, de cada R$ 100 tomados por consumidores e empresas, R$ 75,69 foram desembolsados pelos quatro maiores bancos do país: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Itaú Unibanco e Bradesco. Um ano atrás, esse valor era de R$ 73,45.

Oito anos atrás, no início da série histórica da autoridade monetária, as quatro maiores instituições financeiras eram responsáveis por pouco mais da metade dos desembolsos de crédito no Brasil. Para tomadores de empréstimos, a concentração bancária traz riscos que vão de taxas de juros elevadas à oferta limitada de linhas de crédito.

Os dados fazem parte do relatório de estabilidade financeira divulgado pelo BC. No documento, a autoridade descreve a concentração bancária no Brasil como “moderada”.

O Valor apurou, porém, que, pela metodologia usada pelo Banco Central, uma participação de mercado acima de 75% detida pelos quatro maiores banco já acende a luz amarela.

Esse patamar abre espaço, pelo menos em tese, para a possibilidade de exercício coordenado de poder. O nível já foi superado pelos bancos também em depósitos (76,09%). Só em ativos totais é que a fatia detida pelos quatro maiores bancos é inferior a isso, mas já bem próxima, em 71,35%. Em junho de 2013, esses percentuais eram de 75,64% e de 69,34%, respectivamente.

Procurado, o BC não comentou o assunto. Em nota, a autoridade apenas disse que “reafirma que os níveis de concentração no sistema financeiro nacional se encontram em patamares que não ensejam preocupação, bem como que o grau de rivalidade entre as empresas nele atuantes é adequado”.

Para o BC, a concentração se torna relevante quando limita a concorrência entre os bancos. Por isso, além de indicadores de concentração de mercado, a autoridade monitora o nível de competição entre as instituições financeiras. No entanto, esses dados não são públicos.

A autoridade considera que, por vezes, a concentração pode até tornar os bancos mais competitivos. Eventuais ganhos de escala conquistados podem ser repassados aos preços de serviços e às taxas de juros do crédito, por exemplo.

Processos de fusão e aquisição, como os protagonizados em 2008 por Itaú e Unibanco e por Real e Santander, ajudam a explicar parte do atual grau de concentração bancária. De 2006 a 2014, o número de bancos no país caiu de 186 para 174.

Um gestor de fundos de private equity, que compra participações em empresas, relatou ao Valor que aquisições bilionárias com o uso de dívida bancária são “inviáveis” no Brasil, apesar de serem bastante comuns no exterior. Não há bancos em número suficiente para a formação de um sindicato que seja capaz de financiar a transação, diz ele.

Empresas também sentiram os efeitos da concentração bancária, em especial na diminuição da oferta de crédito. “A combinação entre um número menor de bancos de grande porte com uma maior restrição regulatória para os bancos emprestarem foi perfeita para diminuir a liquidez no mercado e, consequentemente, para levar a menos empréstimos bancários”, afirma o tesoureiro da produtora de celulose Fibria, Marcelo Habibe.

Um quinhão da responsabilidade pela atual configuração do mercado financeiro veio do próprio governo. BB e Caixa são os bancos que mais ganharam espaço, principalmente desde 2009, quando essas instituições passaram a agir para evitar um impacto maior da crise financeira internacional. Esse processo foi reforçado a partir de 2012, quando a presidente Dilma Rousseff decidiu liderar um movimento contra os spreads bancários a partir dos bancos públicos.

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