Valor Econômico
Sérgio Bueno, de Porto Alegre
Animado com a recuperação da economia brasileira nos últimos meses e a expectativa de retomada firme dos investimentos no aumento da capacidade instalada da indústria a partir do segundo semestre do ano que vem, o Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) projeta expansão de 23% a 25% na carteira de crédito em 2010. Se a projeção se confirmar, o estoque de empréstimos concedidos pela instituição ficará em torno de R$ 17 bilhões no fim do próximo exercício.
“Estamos trabalhando com um cenário bem melhor do que em 2009”, disse ontem o presidente do banco, Fernando Lemos. Nos últimos 12 meses a carteira de crédito da instituição cresceu 14,8%, para R$ 12,5 bilhões, mas o forte desempenho no segmento de pessoas jurídicas ao longo do quarto trimestre deve ampliar a taxa de expansão do ano para 20% sobre 2008, para R$ 13,7 bilhões, disse ele.
Segundo Lemos, os empréstimos para empresas vão puxar a expansão do crédito em 2010 devido, principalmente, ao provável esgotamento da capacidade de produção da indústria até meados do ano e também à manutenção do bom desempenho da construção civil. Em 2009, quem sustentou a alta das carteiras foram as pessoas físicas, especialmente no segmento de crédito consignado, explicou o executivo.
Lemos prevê que o volume de novos financiamentos liberados pelo banco ao longo de 2010 deva alcançar R$ 14,2 bilhões, ante os R$ 10 bilhões previstos para este ano e os R$ 8 bilhões de 2008. “A previsão do mercado é que a participação do crédito sobre o Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) deve passar de 45,9% em 2009 para mais de 50% no ano que vem”, comentou o executivo, que espera mais concorrência com os bancos privados na oferta de novos empréstimos.
As projeções do Banrisul adotam como parâmetro macroeconômico uma expansão real de 4,5% no PIB brasileiro e estadual, em 2010, e de 5% nos dois anos seguintes. Incluem ainda a manutenção da Selic em 8,75% ao ano até agosto com elevação para 10,25% até dezembro como forma de o Banco Central buscar o cumprimento da meta de inflação de 4,5% para o ano que vem, mas com pequeno efeito sobre os juros finais ao consumidor, disse o executivo. Já o câmbio deve permanecer estável entre R$ 1,70 e R$ 1,75 por dólar.
Conforme o executivo, mesmo com a expansão do crédito, o sistema financeiro não corre riscos de aumento da inadimplência graças ao crescimento da renda da população e ao comportamento mais consciente dos consumidores. No Banrisul, que considera como inadimplentes os empréstimos vencidos a partir de 60 dias, o nível recuou do pico de 4,3% em maio para 3,8% em setembro e segue declinante. Para o ano que vem, a estimativa é que ele fique no patamar histórico de 3,5%.
O otimismo também leva em consideração um cenário mais favorável para a economia do Rio Grande do Sul, onde se concentram cerca de 90% dos negócios do banco. De acordo com o presidente, os investimentos do governo estadual, previstos em R$ 2,8 bilhões no ano que vem, sendo R$ 1,6 bilhão com recursos do Tesouro e R$ 1,2 bilhão das estatais, vão contribuir para alavancar os negócios no Estado. O orçamento de aportes do Tesouro em 2009 é de R$ 1,2 bilhão, mas a frustração das receitas deve reduzir o montante para cerca de R$ 600 milhões.