Pesquisa da Unicamp em Jundiaí revela adoecimento por assédio moral

Dados vão ajudar a avançar nas negociações de saúde com os bancos

Numa iniciativa do Sindicato dos Bancários de Jundiaí e Região, em parceria com o Cerest (Centro de Referência de Saúde do Trabalhador), a Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas lançou na manhã desta quinta-feira (30), na sede do Cerest, o resultado de uma pesquisa encomendada para avaliar as condições de saúde dos bancários de Jundiaí e região, principalmente no que se refere às doenças em decorrência de transtornos mentais.

Liderada pelo professor doutor Sergio de Lucca, a pesquisa, que entrevistou 240 bancários, revela que as metas desafiadoras exigidas pelos bancos tem realmente adoecido a categoria.

“Essa questão de exigir um desempenho individual extremo joga um bancário contra o outro, quebrando a coesão e a solidariedade em equipe”, diz Lucca.

Segundo ele, as pessoas vão adoecendo pelo excesso de demanda, pela competição excessiva, pela falta de apoio dos colegas e das chefias e principalmente por não terem controle das atividades. ”Cada vez mais o banco reduz a autonomia do funcionário”, aponta, o que cria ressentimento e insatisfação.

De acordo com o médico, o problema é que o assédio organizacional contribui também para a corrosão do caráter. “É um conflito ético. Como é que eu vendo algo que nem eu mesmo quero comprar?”, questiona ele, referindo-se às centenas de produtos oferecidas pelos bancos. ”Ou eu saio do banco ou me despersonalizo. Mas quem tem coragem de deixar o emprego na atual conjuntura?” avalia

Uma estatística de 2013 mostra que dos 12 mil afastamentos por transtorno mental, 6,5 mil eram de bancários. ”Esse número e nossa pesquisa mostram um quadro bem pior do que imaginávamos”, diz o médico. Segundo ele, há uma projeção de que em 2020 a depressão seja a primeira causa por afastamento do trabalho no Brasil.

A doença é dos bancos

O assédio moral organizacional, segundo o pesquisador, mostra que quem de fato está doente são as instituições, sejam elas bancos públicos ou privados. ”Está comprovado que a nova metodologia de atingir metas a qualquer custo não está dando certo”.

Segundo ele, os bancos sugerem que o funcionário se fortaleça, pratique esportes, faça yoga, mas não é isso que vai resolver o problema. ”O pior não é o afastamento. O pior é o que chamamos de presenteismo. O funcionário está lá, mas está doente e está sofrendo”.

Para Jesus dos Santos, gerente do Cerest, a pesquisa mostra a necessidade de um novo posicionamento.

“Vamos aguardar a publicação na íntegra na revista científica da Unicamp e a partir daí implementar novas ações com relação à saúde dos bancários”.

Douglas Yamagata, presidente do Sindicato dos Bancários de Jundiaí e região diz que com os dados da pesquisa é possível trilhar caminhos para uma intervenção nesse processo insano dos bancos.

“Temos uma proposta de ampliar essa pesquisa nos níveis estadual e nacional para que toda a sociedade tenha conhecimento da gravidade do que ocorre dentro das agências”, disse.

Segundo ele, o resultado da pesquisa será importante inclusive para se avançar nas negociações entre sindicatos e bancos, lembrando que o projeto de terceirização certamente vai piorar as condições de toda as classes trabalhadoras. ”A metodologia bancária está totalmente equivocada e vamos lutar para mudar esse quadro que está deixando a categoria à beira de um ataque de nervos”, conclui.

A íntegra da pesquisa será publicada e apresentada ainda neste ano. Douglas informa que os dados apresentados no lançamento desta quinta-feira já serão divulgados em encontros da categoria e que o Sindicato avalia a criação de um fórum para a apresentação e análise detalhada dos números obtidos pela Unicamp.

Além da diretoria do Sindicato, também estavam presentes no lançamento: Adma Maria Gomes e Darci Torres Medina, diretores da Fetec-CUT/SP; e Walcir Previtale, Dantas de Oliveira, diretor da Contraf-CUT.

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