Encontro do Macrossetor de Comércio, Serviços e Logística da CUT
O segundo dia do 2º Encontro do Macrossetor Comércio, Serviços e Logística da CUT, que inclui o ramo financeiro, reuniu nesta sexta-feira (4), em São Paulo, lideranças sindicais de confederações, federações e sindicatos de todo o país para discutir a organização da classe trabalhadora diante dos impactos que as novas tecnologias trazem ao mundo do trabalho, sobretudo, no emprego e na saúde do trabalhador.
Antes do início das mesas de debates, o superintendente regional do Trabalho e Emprego (SRTE) de São Paulo, Luiz Antônio de Medeiros, fez um pronunciamento, onde destacou a necessidade de o movimento sindical repensar a forma de atuação, a começar pela forma de sustentação financeira.
Medeiros disse que há sindicatos fundados apenas para receber o imposto sindical e que não representam os trabalhadores, e outros chegam a realizar assembleias para eleger as diretorias. “Tem sindicato com mandato até 20 anos”, denunciou. “Tem sindicato em que um presidente, de 85 anos, estando hospitalizado e à beira da morte, lançou edital para escolher nova diretoria, botando o filho para presidente”, criticou.
“A banda boa (do sindicalismo) fica calada e vai levando a banda podre nas costas. Essas coisas não podem ficar desse jeito”, apontou.
Regulamentação do trabalho
A primeira mesa focou as novas formas de organização do trabalho e emprego decente, os impactos das novas tecnologias, terceirização, novos modelos de gestão e contratos de trabalho, e a saúde do trabalhador.
Para a secretária de Saúde do Trabalhador da CUT, Junéia Batista, garantir condições decentes de trabalho passa a ser prioridade da classe trabalhadora diante dos modelos de organização que resultam das novas tecnologias. Em muitos casos, alertou, essas transformações passam despercebidas no cotidiano, como chamar o táxi pelo celular ou o check-in eletrônico nos aeroportos, que diminuem a necessidade de atendentes.
“O desafio do movimento sindical perante os novos modelos de gestão é pensar uma nova forma de organização capaz de manter as conquistas sociais para quem já está no mercado de trabalho e ampliar direitos para quem entra. Estamos em um período de pleno emprego, mas com alto índice de rotatividade e assédio moral, especialmente para os setores de comércio, serviços e bancos. E nesse processo temos de descobrir como atrair os jovens para o nosso lado”, apontou.
Também sobre a saúde do trabalhador, Junéia afirmou que o debate a respeito do tema é uma disputa ideológica entre capital e trabalho, entre quem coloca o lucro à frente e quem luta por condições dignas, e que apenas pode ser travado em pé de igualdade se os trabalhadores estiverem unidos.
“A primeira esperança são ações como esses encontros dos macrossetores, que permitem entender o que nos afeta como um todo e discutir como superar os desafios. Precisamos nos reaproximar das bases para que saibam que estamos discutindo essas questões e para saber o que pensam. E, além disso, precisamos participar de espaços institucionais onde estão os patrões, a fim de poder discutir essas questões”, defendeu.
Para o secretário de imprensa da Contraf-CUT e coordenador da mesa de debates, Ademir Wiederkehr, “estamos diante de profundas transformações no mundo do trabalho e o desafio do movimento sindical é enfrentar a gestão do lucro das empresas que está piorando as condições de trabalho e adoecendo os trabalhadores”. Ele defendeu mais saúde, segurança, distribuição de renda e qualidade de vida.
Terceirização eletrônica
Economista do Dieese da Subseção da Contraf-CUT, Vivian Machado falou sobre o que chama de cenário de ampliação da terceirização e destacou a Lei 12.865/2013, que regulamenta os meios de pagamento eletrônicos e permite transações através de celulares sem a necessidade de uma conta bancária.
Para ela, com o argumento de ampliar o acesso das pessoas ao sistema financeiro, os bancos têm a anuência do Banco Central para buscar medidas que reduzem os custos com a emissão de moeda, mas também eliminam postos de trabalho e, consequentemente, aumentam o lucro.
Segundo Vivian, a lei traz ainda lacunas como incertezas sobre quem responderá por problemas que surgirem com o sistema eletrônico e quem representará os trabalhadores das novas instituições de pagamentos, já que não se sabe a qual categoria pertencem.
“A justificativa do acesso a todos é a mesma que utilizaram para transformar lotéricas e lojas varejistas em correspondentes bancários. Só que esses correspondentes estão mais presentes na região Sudeste, onde há mais agências, e pouco no Norte e Centro-Oeste, onde há maior carência de serviços bancários”, comparou a especialista. Entre 2003 e 2013, o número de correspondentes aumentou 1.011% no país, enquanto o total de agências cresceu somente 35%, segundo dados do Banco Central.
“As novas tecnologias diminuem cada vez mais a necessidade de bancários, enquanto o comerciário é cobrado para fazer o serviço financeiro, mas não conta com a mesma estrutura de segurança e nem com os direitos da convenção coletiva dos bancários. É uma realidade que afeta todas as categorias e, se não nos unirmos, vamos perder todos”, avalia.
Sentimento de classe
Secretário de Saúde da Confederação dos Trabalhadores no Comércio e Serviços (Contracs), Domingos Mota, que ressaltou a necessidade de cobrar do Ministério de Saúde ações para fortalecer a discussão nos locais de trabalho, foi mais um dirigente a enfatizar a importância da organização das categorias da CUT em macrossetores para gerar solidariedade e pautas comuns de luta.
“No ramo financeiro, o sistema capitalista dificulta o acesso por meio humano para levar o cliente às novas tecnologias, em que o próprio cliente faz o atendimento. Essa é uma realidade que precisaremos enfrentar e o sentimento de classe, principal mérito do macrossetor, vai nos levar a debates menos corporativistas e mais com o sentimento de que somos todos a classe trabalhadora”, definiu.
Já o diretor do Sindicato dos Vigilantes da Bahia, Vladimir Cardoso, defendeu a necessidade de cobrar do governo o compromisso assumido com os trabalhadores quando eleito. “Para avançar em nossa luta precisamos também pautar o governo que elegemos e cobrar ações para a agenda da classe trabalhadora. Temos que estar nas ruas no próximo dia 9 para que não só os empresários sejam ouvidos”, disse.
O secretário de finanças da Contraf-CUT, Roberto von der Osten, o Betão, mostrou as diferenças do trabalho bancário nos últimos 30 anos. Ele destacou a importância de aprofundar o debate nas entidades sindicais sobre as mudanças ocorridas e discutir novas formas de organização e mobilização dos trabalhadores.
O secretário de Políticas Sociais da CUT, Expedito Solaney, afirmou que a classe trabalhadora deve estar atenta para que novas formas de produção não atentem contra as condições dignas de trabalho.
Direito do consumidor
A última mesa do encontro abordou a prestação de serviços e o direito à cidadania. O professor especialista em direito do consumidor, Georgios Alexandridis, fez uma exposição, onde defendeu que a atuação do movimento sindical esteja associada aos interesses de quem consome os serviços para que seja respaldada pela sociedade.
“Quando o movimento sindical faz greve de ônibus ou metrô é o consumidor quem mais sente o prejuízo, enquanto a liberação de catracas traria maiores problemas ao empresário”, exemplificou.
Para Alexandridis, a luta dos sindicatos na defesa dos consumidores deveria ser mais ampla. Primeiro, porque beneficiaria diretamente os trabalhadores, já que um serviço de qualidade passa pela melhoria de condição no local de trabalho. Segundo, porque em muitas situações, o trabalhador atua como representante do empresário no estabelecimento e acaba induzindo ao erro por desconhecer a legislação ou por não saber que pode recusar adotar uma postura nociva ao consumidor.
O presidente da Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV), José Boaventura, que foi o coordenador dessa mesa de debates, apontou os inúmeros problemas enfrentados pelos clientes dos bancos, empresas de telefonia e comércio, enquanto consumidores e cidadãos. “Precisamos defender a prestação de serviços decentes e combater os abusos praticados, como as altas taxas de juros e as tarifas exorbitantes, incentivando denúncias aos órgãos de defesa do consumidor e ações judiciais”, salientou.
Macrossetor nos estados
Apesar da amplitude de categorias que compõem o macrossetor, o diretor da CUT Nacional, Admirson Ferro Júnior, o Greg, avaliou que o encontro foi capaz de traçar um panorama de desafios e obstáculos comuns, mostrando o caminho da luta unitária é importante para o fortalecimento da classe trabalhadora e o avanço das lutas.
“Esse seminário abre uma perspectiva de luta mais organizada em cima de bandeiras como o combate à terceirização, a defesa da redução jornada de trabalho e da saúde de trabalhador, que tem o assédio moral comum a todas as categorias.”
O próximo passo, afirma o dirigente da CUT, é organizar as entidades sindicais do macrossetor para fazer um enfrentamento mais coeso também nos estados, fazendo crescer o sentimento de classe e a unidade na luta.
“Os encontros nacionais continuarão acontecendo, mas precisamos descer para as regiões do país, com o objetivo de fazer com que nossas entidades incorporem-se a essas batalhas”, concluiu.