O BNDES vai analisar como fica a situação da subsidiária brasileira da General Motors, cuja matriz, desde ontem, é uma empresa concordatária, para definir sobre a concessão de empréstimos para seus projetos no país. Os novos pedidos de recursos da GM no banco, como as novas consultas já encaminhadas, só terão “sinal verde” da instituição se a área jurídica entender que a GM Brasil é outra empresa, independente da matriz americana e que não seja impactada pela concordata.
Caso contrário, não serão aceitos. Até agora, toda operação que o BNDES fez com a GM Brasil foi indireta, via agente financeiro. Ou seja, o risco é do agente, que recebe e repassa o dinheiro. No caso de empréstimo direto, a subsidiária dá como garantia fiança bancária.
Enquanto isso, o governo gaúcho segue com o plano de conceder empréstimo de R$ 150 milhões à indústria. Segundo reportagem publicada no jornal Valor Econômico desta terça-feira, dia 2, a própria fábrica de Gravataí será a garantia do empréstimo do Banrisul. Mas o Bndes considera isso muito pouco e entende que a empresa poderia oferecer outros ativos, fiança bancária ou ainda o fluxo de recebíveis como garantias.
Acontece que o governo Yeda negocia com a GM às escuras. E é esse comportamento que faz com que o Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região e a Federação dos Bancários RS questionem as condições do empréstimo. O movimento sindical quer, sim, preservar os empregos da fábrica da GM e nas sistemistas, em Gravataí, mas não admite que isso represente prejuízos ao Banrisul e ao povo gaúcho.
Os bancários questionam a utilização de recursos públicos numa situação dessas, uma vez que pode comprometer os projetos de desenvolvimento financiados pelo Banrisul. Por isso, é fundamental saber quais as garantias oferecidas nessas negociações para evitar perdas ao banco dos gaúchos.
Só que o governo tem mantido sigilo, postura questionada pela imprensa. A jornalista Denise Nunes, do Correio do Povo, questionou em sua coluna, dia 7 de maio, a falta de transparência na concessão de empréstimo à GM pelo Banrisul. A repórter diz que os jornalistas foram impedidos de acompanhar a reunião entre a montadora e o governo do Estado realizada no dia 6 de maio.
Segundo ela, “um encontro entre as cúpulas da GM (o vice-presidente José Carlos Pinheiro Neto e o diretor Luiz Moan) e do governo (Yeda Crusius, secretários da Fazenda, Planejamento, Sedai e presidente do Banrisul) lembrou os tempos do governo Antônio Britto, quando os executivos de montadoras frequentavam o Palácio Piratini pelos fundos e a imprensa era impedida de entrar. ”
Denise disse que o titular da Sedai, Marcos Biolchi, único que se dispôs a um tanto de educação e respeito à informação de interesse público (a GM negocia com o Estado um investimento incentivado de 1 bilhão de dólares), informou que o motivo da reunião foi um só: a situação da operação brasileira (a segunda melhor no ranking mundial da Chevrolet e terceira da GM, afirmou) no contexto de crise da corporação.
Até faz sentido: como o governo justificaria incentivos e financiamentos de vulto quando a fragilidade da GM mundial é um fato? Segundo Biolchi, está tudo bem no Brasil. “Neste caso, por que fugir da imprensa?”, questionou Denise. É isso que os bancários também querem saber.