O presidente Artur Henrique avalia que o ato do próximo dia 19, em Brasília, deve também levantar a bandeira do aumento da produção contra a especulação de preços praticada pelo empresariado. Ele acredita que o Banco Central deve ser duramente cobrado pela errônea política de juros, mas os empresários precisam ser responsabilizados pelos aumentos “preventivos” de preços.
Veja trechos da entrevista ao Portal do Mundo do Trabalho logo a seguir. O ato, intitulado Menos Juros, Mais Desenvolvimento, acontece na próxima quinta, a partir das 10h, em frente à sede do Banco Central, em Brasília.
Artur, como dialogar com a sociedade com um ato que exige a queda da taxa básica de juros enquanto existe uma crescente histeria em torno da inflação?
Ninguém quer a volta da inflação, este é um consenso da sociedade brasileira, especialmente entre a classe trabalhadora, que é a mais prejudicada com a elevação dos índices. No entanto, estamos passando por um momento em que se assiste a elevação de preços não só de algumas mercadorias, como alimentos e produtos cujo processo de produção é intensivo no uso de petróleo, mas também estamos constatando que o empresariado faz o repasse de preços já contando com a perspectiva de inflação futura.
Na nossa opinião, isso tem muito mais a ver com especulação, pois o empresariado está elevando preços não necessariamente em função do aumento de custos. Há, de fato, uma pressão internacional em torno do petróleo e dos alimentos, causada por especulação financeira e fatores sazonais, como quebra de safra e outros. Mas já se detecta a elevação de preços em vários setores não afetados diretamente por essa pressão. É uma espécie de repasse chamado de preventivo, que faz os produtos ao consumidor embutirem uma inflação que ainda não existe, mas que é prevista por alguns institutos e consultorias. Assim, a inflação acaba voltando mesmo.
Portanto, na nossa opinião, além de exigirmos menos juros e mais desenvolvimento, vamos exigir também menos especulação e mais produção por parte dos empresários. Aumentar preços contando com inflação futura também é especulação, e os empresários devem se responsabilizar e ser responsabilizados também pelo controle da inflação.
A Fiesp dizia que o fim da CPMF diminuiria os preços dos produtos, mas isso não aconteceu. Por que será?
Porque tem um empresariado no Brasil, e a Fiesp é um símbolo desse empresariado, que se utiliza de todas as circunstâncias apenas para aumentar a margem de lucro. Agora, por exemplo, os empresários atacam a alta taxa básica de juros – que é alta mesmo, indecente – mas apontam como saída para o problema o corte de gastos do Estado. Eles aumentam a margem de lucro, como fizeram com o fim da CPMF, e ainda querem impor uma visão, derrotada nas últimas eleições, de diminuição do papel do Estado. Temos que levar esse debate para a sociedade e dizer, com clareza, que temos de diminuir drasticamente a taxa básica de juros ao mesmo tempo que devemos colocar cada vez mais o Estado como indutor do desenvolvimento e da superação das desigualdades sociais. E que a sociedade quer menos especulação e mais produção.
No rádio, hoje mesmo, entidades da indústria usaram horário pago para dizer que a solução é aumentar o superávit primário…
É, há uma elite conservadora que quer nos fazer crer que o controle da inflação vai ser dar com cortes nos gastos do governo. As demandas da sociedade brasileira são muito altas em saúde, educação e segurança, só pra citar três grandes temas. Tem de ter intervenção pública cada vez maior.
Os empresários ficam aumentando preços especulando com inflação futura, o Banco Central e o governo elevam a taxa básica de juros e isso forma uma roda viva. Os consumidores têm menos oportunidade de comprar, a produção diminui e coloca-se em risco toda a possibilidade de crescimento sustentável.
Esse mesmo empresariado, que continua lucrando e repassando preços e que defende que o Estado corte gastos, não se importa de ir ao BNDES para buscar dinheiro público a juros baixos. Então, temos de colocar os pingos nos “is”. O empresariado também deve ser chamado à responsabilidade no processo de controle da inflação e continuidade do crescimento econômico.
Quais setores produtivos têm elevado preços dessa forma?
A última ata do Copom aponta que 75% do que é produzido no Brasil tem passado por elevação de preços. Ao contrário das atas anteriores, que apontavam pressão inflacionária localizada, esta última demonstra que o risco está se alastrando. E isso é pura especulação.
Qual a sua expectativa para a mobilização do próximo dia 19?
É um ato chamado pela Coordenação dos Movimentos Sociais, da qual a CUT faz parte. Então, não será apenas um ato sindical, mas que vai envolver o conjunto dos movimentos populares organizados. Isso demonstra o acerto da Central Única dos Trabalhadores em sua postura de independência e autonomia. Em virtude das dificuldades para se construir um grande ato em pouco tempo – pouco mais de uma semana – tem sido fundamental a participação das entidades do entorno de Brasília, com destaque para a CUT Goiás, CUT Minas e a própria CUT Distrito Federal. Temos de destacar também o esforço de entidades que terão de enfrentar longa viagem até Brasília. A CUT Santa Catarina, por exemplo, está organizando uma caravana para o ato do dia 19.
Nota
No último dia 4 de junho, horas antes de o Banco Central e seu Copom anunciarem novo aumento na taxa básica de juros, o presidente Artur Henrique enviou a seguinte nota à imprensa:
Menos juros, mais desenvolvimento
Por diversas vezes a CUT protestou contra a política de altíssimas taxas básicas de juros e elevado superávit primário, por considerá-la um ataque vil aos esforços por desenvolvimento sustentável com distribuição de renda e valorização dos trabalhadores e trabalhadoras.
No próximo dia 19 de junho, protestaremos novamente através de mobilizações e atos públicos diante da sede do Banco Central, em Brasília, e de outros escritórios regionais da instituição. Vamos manifestar nas ruas nossa indignação contra esse entulho neoliberal mantido pelo Copom, que tanto agrada aos especuladores e que tanto prejudica o setor produtivo do Brasil.
Artur Henrique, presidente nacional da CUT