A remuneração global dos 46 integrantes da diretoria executiva do Santander Brasil será aumentada em até 48,3% em 2014. Com isso, segundo cálculos do Dieese, cada um deles ganhará média de R$ 5,7 milhões, considerando salários, bônus e participação nos resultados, conforme foi aprovado em assembleia dos acionistas do banco espanhol, realizada na tarde desta quarta-feira (30), no prédio da Torre, em São Paulo. No total, eles poderão receber este ano até R$ 324,1 milhões.
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O acionista minoritário Ademir Wiederkehr, que é secretário de imprensa da Contraf-CUT e diretor da Afubesp, apresentou voto contrário, que foi lido, protocolado e registrado em ata. Os minoritários Afubesp, que também proferiu voto, Camilo Fernandes e Wagner Cabanal também votaram contra a proposta do banco.
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“Essa proposta desconsidera a crise financeira do banco na Espanha e a queda do lucro do Santander no Brasil”, protestou Ademir. “Além disso, distribui, mais uma vez, milhões de reais para altos executivos e amplia a política diferenciada em relação à remuneração dos atuais 48,7 mil trabalhadores, principais responsáveis pelos resultados do banco”, criticou.
Para o dirigente da Contraf-CUT, “enquanto o alto escalão é supervalorizado, milhares de funcionários ganham salários que estão entre os menores do sistema financeiro, submetidos à pressão de metas abusivas e sem expectativas de carreira, diante da falta de um Plano de Cargos e Salários (PCS) com regras claras e transparentes para a valorização profissional dentro da empresa”.
Os nove membros do Conselho de Administração poderão receber até R$ 7,2 milhões em 2014.
PDD reduziu PLR dos bancários
Apesar do lucro de R$ 5,744 bilhões em 2013, uma queda de 9,7% em relação a 2012, Ademir também votou contra as demonstrações financeiras do balanço. “Esse lucro teria sido ainda maior, se não fossem as elevadas provisões para despesas com devedores duvidosos (PDD), que atingiram R$ 14,3 bilhões, apesar da queda de 1,8 ponto percentual no índice de inadimplência superior a 90 dias em 2013, atingindo 3,7% no final do ano.
“Essa manobra contábil impactou, consideravelmente, o lucro e reduziu a distribuição de dividendos e o pagamento da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) aos funcionários do banco”, frisou.
O sindicalista pediu informações sobre o montante distribuído de PLR, de PPRS e dos programas próprios de renda variável. Como o banco não tinha os números detalhados, Ademir protocolou uma carta solicitando o valor de cada uma dessas remunerações no prazo de até 15 dias.
Corte de 4.371 empregos em 2013
“Mesmo com todo esse lucro, o Santander não criou novos empregos, andando na contramão da economia brasileira, que gerou 1,1 milhão de novos postos de trabalho com carteira assinada”, observou Ademir. O banco eliminou 4.371 empregos em 2013.
O dirigente sindical também pediu informações sobre o total de contratações e de desligamentos (inclusive por tipo), uma vez que o balanço mostra apenas o número de funcionários no final de cada exercício. Como o banco também não tinha os números detalhados, Ademir também solicitou esses dados na carta protocolada.
Melhores condições de trabalho
Além da falta de pessoal, Ademir denunciou outros problemas dos bancários. “Os trabalhadores reivindicam o fim do assédio moral e da cobrança diária de metas abusivas para a venda de produtos. Muitos funcionários estão adoecendo por causa da pressão constante que sofrem no trabalho.”
“Com essa gestão do lucro em detrimento das pessoas, não é à toa que o Santander foi o banco com maior número de meses na liderança do ranking de reclamações de clientes no Banco Central em 2013. O banco ficou em primeiro lugar por oito meses, dos quais seis consecutivos. E nos três primeiros meses de 2014 continua liderando. O Santander não vai fazer nada para mudar essa situação que prejudica a imagem do banco?”, questionou Ademir.
“O banco deveria também investir mais em equipamentos de segurança, prevenindo assaltos e sequestros e protegendo a vida de trabalhadores e clientes”, acrescentou.
Lucro pode resolver pendências
Ademir também votou contra a destinação do lucro do exercício de 2013, pois “o banco enrolou o movimento sindical e não deu solução para várias pendências com os funcionários da ativa e os aposentados”.
Para o dirigente sindical, “o lucro obtido possibilita negociar seriamente com as entidades sindicais e encontrar soluções para o atendimento das justas reivindicações dos trabalhadores, tais como pagamento do serviço passado do Plano II do Banesprev, restabelecimento das regras antigas do ex-HolandaPrevi e eleições democráticas no SantanderPrevi, solução para o passivo trabalhista dos aposentados, fim das práticas antissindicais, reversão das terceirizações, igualdade de oportunidades e acordo marco global.
Soluções aos planos de previdência
Ademir reiterou as ressalvas apresentadas pelos conselheiros fiscais eleitos Claudanir Reggiane e Maria Lúcia Mathias e aprovadas por quase unanimidade dos participantes na recente assembleia do Banesprev. “Trata-se de vários problemas existentes nos diversos planos de benefícios e não resolvidos pela patrocinadora Santander”, enfatizou.
O dirigente da Contraf-CUT apontou que foi aprovada outra ressalva pelos participantes, onde consta que o Santander “é o responsável único pelo patrocínio do Banesprev, por ele e/ou eventuais sucessores, respondendo nesta qualidade de patrocinador pela exatidão das contas, tudo em decorrência das responsabilidades atuariais, previdenciárias e trabalhistas oriundas do Banespa e seus antigos empregados, independentemente de registros posteriores a 20/11/2000 em seus balanços semestrais, que venham a prejudicar os participantes destes planos ou limitar pagamentos das complementações salariais”.
Ademir também pediu informações sobre uma tabela de planos de previdência complementar sem nota explicativa no balanço, protocolando carta na assembleia solicitando esclarecimentos do banco.
Respeito e dignidade aos aposentados
O diretor da Contraf-CUT cobrou também dignidade para os aposentados. “O banco tem protelado o cumprimento de decisões judiciais envolvendo ações individuais e coletivas de funcionários aposentados, sendo que muitos falecem sem receber o pagamento de seus direitos”, salientou.
“Um exemplo é a protelação envolvendo o pagamento das gratificações semestrais estatutárias dos aposentados do Banespa. Desta forma, o banco aumenta o passivo trabalhista da instituição e gera insatisfação em milhares de aposentados, que também são clientes e formadores de opinião nas comunidades onde atuam”, alertou o dirigente sindical.
Representante eleito dos funcionários no Conselho de Administração
O diretor da Contraf-CUT votou contra a eleição dos atuais membros do Conselho de Administrativo, “na medida em que essa instância não possui um representante eleito pelos funcionários do banco”.
No Brasil, a lei federal nº 12.353/2010, assinada pelo ex-presidente Lula e regulamentada pela presidenta Dilma, determina a eleição de um representante dos funcionários nos conselhos de administração das empresas estatais, públicas e de economia mista, ligadas à União. Assim, vários bancos já possuem hoje representantes eleitos e empossados, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal.
“Trata-se de um exemplo de boa governança, que deveria ser adotado também pelas demais empresas do país. O Santander poderia ser o pioneiro entre os bancos privados no Brasil e promover a eleição de um representante dos funcionários no Conselho de Administração. Seria uma forma de dar transparência na gestão e valorizar os trabalhadores”, defendeu Ademir.
Esclarecimentos sobre boatos de venda do banco
“Aproveito, por fim, para manifestar a minha preocupação enquanto acionista minoritário, empregado do banco e dirigente sindical, diante da demora da diretoria do Santander em responder aos frequentes boatos envolvendo a venda do banco no Brasil”, observou Ademir. “Isso causa muita apreensão nos funcionários, provoca dúvidas no mercado, gera incertezas na clientela, prejudica a imagem da instituição e dificulta a realização de negócios para o crescimento do banco”, disse.
“Reitero, mais uma vez, a necessidade de que o Santander mude a sua forma de gestão, negocie seriamente com o movimento sindical para resolver as pendências apontadas, como forme de valorizar os funcionários da ativa e os aposentados, o que contribuirá para atingir melhores resultados para os acionistas, agregar valor para sociedade brasileira e o fortalecer o desenvolvimento econômico e social do país”, concluiu.