Apesar do fraco desempenho da economia, que desacelerou o ritmo de concessão de empréstimos, os cinco maiores bancos brasileiros registraram alta de 20,6% no lucro líquido ajustado no terceiro trimestre, em relação ao mesmo período do ano passado. O saldo do crédito aumentou bem menos: 9,8%.
Há várias explicações para os excelentes resultados do Banco do Brasil, Caixa, Itaú, Bradesco e Santander. Segundo analistas, entre elas estão diversificação de receitas, ganhos de eficiência operacional, apetite por risco controlado e, em geral, boa gestão. Tudo isso suporta as tendências favoráveis das margens líquidas de juros, que devem continuar, acredita Eduardo Ribas, diretor da área financeira da Fitch Ratings.
A agência acredita que o aumento das taxas de juros ajuda as margens, mas os esforços para manter os custos do crédito sob controle em um cenário de fraca atividade econômica continuarão sendo um desafio para estes bancos.
O crescimento do crédito de fato não foi destaque no período, mas temos que lembrar que a base de comparação já é alta, e continua gerando receitas importantes para os bancos, diz Luis Miguel Santacreu, analista sênior de instituições financeiras da Austin Rating. Os juros subiram e continuarão subindo. A concentração bancária é grande, os bancos aqui não perdem clientes. Os spreads continuam altos porque não tem concorrência.
O especialista lembra, ainda, que os bancos souberam compensar o menor apetite por risco e demanda por crédito, explorando outras fontes de receitas como prestação de serviços cobrança de tarifas de cartões, de administração de fundos e segurados. Todo grande banco de varejo tem uma seguradora, e suas reservas técnicas são aplicadas em juros e também ganham com juros altos.
Do lado das despesas, Santacreu ressalta dois lados: um é o das provisões a despesa caiu na maioria dos bancos, que já operavam com provisões adicionais em estoque (o que afetou os resultados anteriores mas em compensação agora vão oferecer um alívio pela dispensa de constituir reservas adicionais contra calotes). De outro lado, há o corte de custos, que vem gerando melhoria na eficiência operacional. Nem Bradesco nem Itaú estão contratando, o Santander adiou seu programa de abertura de novas agências e o Bradesco deu uma freada, diz.
Para o último trimestre do ano, o analista da Austin prevê uma recuperação do ritmo das concessões de crédito, puxada, de um lado, pela maior demanda sazonal e pelos efeitos das três liberações de compulsórios que o Banco Central fez entre agosto e setembro últimos.
João Augusto Salles, economista da consultoria carioca Lopes Filho, atribui o lucro alto dos bancos no terceiro trimestre ao que chama de movimento de reprecificação da taxa de juros para o consumidor. Os spreads viam caindo desde abril de 2012 com a pressão da concorrência dos bancos públicos, que levou os bancos privados a acompanharem. Mas a partir de janeiro de 2014 os juros voltaram a acelerar e os spreads se alargaram, diz Salles. Para ele, os bancos repassaram a alta da Selic, de 7,25% em abril de 2013 para o atual patamar de 11,25%, numa magnitude e velocidade muito maior, exatamente para recuperar a margem.
O economista concorda com Santacreu e Ribas e também vê nas receitas com serviços bem diversificada e na redução do risco das carteiras duas fortes explicações para o aumento do lucro. E também lembra o impacto positivo das taxas de juros nas suas operações de tesouraria (aplicações dos recursos próprios). No entanto, Salles lembra que apesar de a inadimplência estar, de modo geral, bem controlada, houve um repique em grandes empresas. Espero que nãos seja uma tendência, mas a provável aceleração do crédito no quarto trimestre pode agravar o aumento dos calotes mais para a frente, diz. Ele explica que outubro foi um mês de recuperação das concessões dos empréstimos, segundo executivos do Banco do Brasil.
A Fitch Ratings também demonstrou preocupação com a manutenção desse cenário positivo nos próximos trimestres. Segundo os analistas, vai depender de como os custos de crédito se comportarão ante um ambiente operacional desafiador. A agência se mantém cautelosa em relação à força da lucratividade desses bancos no quarto trimestre de 2014 e em 2015, apesar dos resultados no terceiro trimestre.
Itaú e Bradesco continuam sendo os dois mais fortes, segundo a Fitch, registrando aumento no lucro líquido ajustado, nos nove primeiros meses, em torno de 34% e de 25%, respectivamente. A Fitch acredita que ambos sustentarão esses bons patamares de lucratividade, a curto prazo. Os lucros do Santander foram praticamente estáveis nos nove primeiros meses de 2014, refletindo sua menor flexibilidade, mas também manteve patamares de capitalização muito fortes.
Os resultados das três instituições no terceiro trimestre foram robustos, diante dos fracos indicadores macroeconômicos, segunda avaliação da Fitch. A qualidade dos ativos dos três bancos privados melhorou, dadas a mudança do mix de produtos para segmentos de menor risco e a manutenção de conservadoras práticas de concessão de crédito. O trio registra patamares confortáveis de provisões para perdas de crédito.
O aumento da receita de serviços, aliado à redução dos custos do crédito e ao maior controle de custos, compensou as pressões sobre as receitas líquidas de intermediação. O nível de capitalização é forte nos três bancos, que deverão exceder confortavelmente as exigências mínimas de capital do Basileia III, que estão sendo gradualmente introduzidas, a médio prazo.
O destaque do Bradesco, além da alta de 25% no lucro, foi atingir seu melhor índice de eficiência – apenas 39,9%. No Itaú, a alta do lucro foi de quase 34% de um ano para outro. Já o Santander mostrou queda importante da inadimplência, para 3,7%.