Folha: calote no país destoa do “spread” alto, aponta FMI

FOLHA DE SÃO PAULO
ÁLVARO FAGUNDES
DA REDAÇÃO

Seguindo a tendência mundial, a taxa de calote (que são empréstimos com mais de 90 dias de atraso) no Brasil cresceu neste ano em relação ao ano passado, mas permaneceu dentro da média mundial.

Em maio, a inadimplência no Brasil estava em 4,3% em relação ao total de empréstimos, ante 3,1% no ano passado, o que colocava o país na 31ª posição entre as taxas mais altas do mundo em uma lista de 59 nações elaborada semestralmente pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

O crescimento da taxa de inadimplência não é exclusividade brasileira: apenas sete dos países analisados têm neste ano um resultado igual ou inferior ao do ano passado. Esse aumento do calote é reflexo direto da crise global, com empresas e consumidores enfrentando dificuldades para manter seus compromissos em dia.

Segundo dados divulgados pelo Banco Central na semana passada, 5,9% do volume de crédito no país em agosto estava inadimplente há mais de 90 dias (resultado idêntico ao de julho), com uma melhora na situação das pessoas físicas, enquanto a das empresas continuou a piorar. A taxa de inadimplência das pessoas físicas caiu pela primeira vez desde agosto do ano passado, já a das empresas teve crescimento pelo nono mês consecutivo.

De 2003 a 2008, em levantamentos mais amplos do Fundo -com pelo menos 90 países-, o Brasil sempre ficou mais ou menos no meio da tabela. A posição mais baixa foi o 56º lugar, em 2003 e 2004, e a mais alta, 40ª, foi obtida em 2006. No ano passado, o país ficou na 49ª colocação entre 92 pesquisados.

O FMI alerta, no entanto, de que, devido à diferença nas contas nacionais, os dados não são “exatamente comparáveis”. No caso brasileiro, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) afirma que os dados usados pelo organismo incluem crédito direcionado (imobiliário, rural) e recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que têm inadimplência menor e que, portanto, derrubam a taxa do país.

O alto patamar da taxa de calote no Brasil é uma das principais explicações dos bancos para explicar o “spread” -a diferença entre os juros a que as instituições captam o recurso e o que elas cobram do cliente.

No ano passado, de acordo com levantamento do Fórum Econômico Mundial com 127 países, o “spread” dos bancos brasileiros ficou em 35,6 pontos percentuais, somente atrás do cobrado no Zimbábue, cuja economia vive situação caótica e onde a inflação chegou à casa dos 231 milhões por cento em julho do ano passado.

Resto do mundo

O ranking dos dez países com maior taxa de inadimplência também mostra os efeitos da crise global. Quatro deles são europeus que pertenciam ao bloco comunista e que foram durante atingidos pela crise, especialmente a partir de setembro de 2008. Ucrânia, Lituânia e Letônia, por exemplo, tiveram queda no PIB superior a 17% no segundo trimestre.

Já nos Estados Unidos, epicentro da crise, a taxa de calote cresceu, mas está abaixo da brasileira, no 37º lugar.

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