O Estado de São Paulo
Gustavo Chacra, CORRESPONDENTE, NOVA YORK
O bônus pago aos executivos de Wall Street baterá o recorde neste ano, em um momento em que a economia americana ainda luta para sair da recessão, com quase 10% de desemprego, e pouco mais de um ano depois do colapso do banco Lehman Brothers.
O crescimento será de 20% em relação ao ano passado e o valor de compensação para os executivos totalizará US$ 140 bilhões, cerca de US$ 10 bilhões a mais do que em 2007 – recorde anterior -, segundo levantamento realizado pelo jornal Wall Street Journal com os funcionários de 23 instituições financeiras, incluindo bancos e fundos de investimento.
O Goldman Sachs, considerado o mais bem-sucedido banco dos EUA, deve pagar US$ 743,112 em média para seus empregados, 99,8% a mais do que no ano passado. Os funcionários do Jefferies receberão US$ 514 mil. Alguns, como o Bank of America, devem conceder bônus bem maiores do que em anos anteriores por causa da aquisição de outros bancos, como o Merrill Lynch, adquirido em setembro de 2008. Nas 23 instituições estudadas somadas, a média deve ser de US$ 143 mil.
A elevada compensação de executivos de bancos provocou, no ano passado e no início deste, uma onda de protestos da população americana, que os considera responsáveis pela crise. O cineasta e ativista político Michael Moore chegou a lançar um filme, “Capitalism”, com ataques aos funcionários de Wall Street e bancos como o Goldman.
O governo dos EUA teve que investir bilhões de dólares para salvar gigantes como o Citibank. Até mesmo o Goldman Sachs recebeu US$ 10 bilhões em ajuda da Casa Branca – o banco já devolveu o dinheiro. Hoje, o banco deve anunciar que destinará US$ 20 bilhões, o dobro da ajuda governamental, apenas para o pagamento dos seus funcionários.
Os bancos argumentam que “os talentos” custam caro e são responsáveis pelos lucros das instituições. Muitos executivos qualificados teriam recebido ofertas de outros setores ou mesmo de empresas estrangeiras, aumentando a competitividade. Os críticos argumentam o contrário e dizem que esses mesmos executivos foram responsáveis pela crise financeira do ano passado e apenas foram salvos porque o governo interveio para salvar os bancos.
Além disso, com o fechamento do Lehman e de outras instituições, profissionais experientes ficaram desempregados, aumentando a demanda qualificada por empregos em Wall Street. De olho no bônus, o Congresso e a Casa Branca estudam regras para conter pagamentos elevados para executivos que coloquem em risco esses bancos e, consequentemente, a economia.
De acordo com o Wall Street Journal, bancos como o Morgan Stanley e o Goldman Sachs destinam cerca de 50% dos lucros para o pagamento dos executivos. O Citibank, assim como outras instituições pesquisadas, teve um desempenho pior neste ano e os bônus serão inferiores ao do ano passado – uma queda de 32%, para uma média de US$ 71,204 por funcionário.