“Não voltarão!”, grita Haydée Reyers, de 54 anos, durante ato multitudinário realizado na tarde de quinta-feira (10) nos arredores do Palácio de Miraflores, em Caracas. A garçonete, a exemplo de outros milhares de venezuelanos que atenderam ao chamado do governo venezuelano, compareceu ao ato para “defender o mandato do presidente Hugo Chávez” e “impedir que a oposição retorne ao poder no país”. “O povo está jurando a posse do presidente”, continuou a venezuelana.
Desde a internação do líder venezuelano em Havana para uma quarta cirurgia contra um câncer, em 11 de dezembro de 2012, oposição e governo apresentaram visões diferentes sobre o 10 de janeiro, data em que Chávez deveria tomar posse frente à Assembleia Nacional. O preceito está previsto no artigo 231 da Constituição, porém, para os chavistas, o trecho menciona que, se por “motivo superveniente” o presidente não puder estar na posse, a mesma será feita frente ao Supremo Tribunal de Justiça.
A leitura do governo foi acatada tanto pela maioria dos deputados do parlamento como pelo TSJ venezuelano. No entanto, partidos opositores defenderam que o presidente da assembleia, Diosdado Cabello, deveria assumir as rédeas do país, devido à ausência do presidente.
Com os protestos da oposição, que chegou a mencionar que o chavismo estaria dando um “golpe de Estado”, o governo convocou a população às ruas para defender Chávez e a revolução. “É um dia histórico, porque começa o mandato do presidente Chávez 2013-2019”, afirmou o vice-presidente Nicolás Maduro.
“Eu não tenho medo deles [oposição]. Aqui há um povo fiel ao presidente e que irá defendê-lo até a morte. Eu votei por Chávez e quero que ele cumpra esse novo mandato”, continuou Haydée. Assim como ela, o técnico agrícola Jarion Centena, de 30 anos, chegou cedo à concentração em Caracas.
“Minha vida mudou completamente desde a eleição de Chávez. Hoje somos mais politizados, não hesitamos em discutir os problemas do país. A oposição pensa que somos os mesmos ignorantes de antes, mas estão enganados”, disse Centena, habitante do Estado de Miranda.
Sobre a ausência do presidente, que ainda não mandou uma mensagem direta ao povo venezuelano ou apareceu em fotos e vídeos, o técnico agrícola afirmou confiar no vice-presidente e no resto do gabinete ministerial. “Com ou sem Chávez iremos seguir. Ele já plantou a semente”, ressaltou.
Haydée concorda: “de coração, espero que ele se recupere, mas caso Deus não queria que o presidente esteja conosco, o honraremos aprofundando ainda mais essa revolução. Hoje é a posse do povo!”.
“Aqui em Caracas, hoje, 10 de janeiro, dizemos ao comandante Chávez: comandante recupere-se que este povo jurou e vai cumprir lealdade absoluta”, gritou o vice-presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ao encerrar seu discurso diante de milhares de pessoas, que respondiam com a mão no coração ao juramento coletivo.
Homenagens
O ato se transformou em uma homenagem ao presidente e contou com a participação dos chefes de Estado convidados: o boliviano Evo Morales; o nicaraguense Daniel Ortega e o uruguaio José Mujica, que discursaram ao lado de primeiros-ministros e chanceleres de vários países latino-americanos e caribenhos.
Morales assegurou que a saúde do presidente venezuelano é uma “preocupação” de todos os povos anti-imperialistas do mundo porque ele “representa a luta anti-imperialista e anticapitalista”.
Mujica pediu que se o governante venezuelano não puder estar presente no dia de amanhã, que prevaleça a “unidade”, a “paz” e o “trabalho”, e Ortega advertiu sobre a necessidade de evitar os enfrentamentos.
“É a paz o que mais temos que cuidar neste momento, porque o confronto e a morte na Venezuela levariam ao confronto e a morte em toda América”, disse o presidente nicaraguense.