Novo presidente do Santander muda diretoria para reforçar foco no varejo

O Estado de S.Paulo
David Friedlander e Patrícia Cançado

Um mês depois de assumir a presidência do Santander, o espanhol Marcial Portela começa a imprimir sua marca no banco. Ontem, o Santander, terceiro maior banco privado do País, anunciou mudanças importantes no comando da instituição e deu sinais de que deve reforçar a atuação no varejo. O novo chefe da área será José Berenguer, que até então cuidava das operações de atacado.

Berenguer é homem de confiança de Fábio Barbosa, atual presidente do Conselho de Administração do Santander. Ele substitui o executivo José Paiva, que deixa o banco após 26 anos. Paiva era do Banco Geral do Comércio, primeiro banco comprado pelo Santander no Brasil. Ele é o terceiro alto executivo a deixar a instituição este ano.

Segundo um executivo próximo ao banco, essas mudanças indicam que a matriz pretende turbinar sua atuação no varejo, área em que o Santander perdeu espaço para Bradesco e Itaú, seus principais concorrentes, nos últimos tempos.

Depois que o Santander levantou R$ 14,1 bilhões na sua abertura de capital, no final de 2009, o mercado esperava que o banco adotasse uma estratégia mais agressiva de crescimento no Brasil. No entanto, por causa da crise financeira mundial no ano anterior – e que bateu forte na Espanha – , o banco preferiu ser mais conservador e acabou crescendo menos que os concorrentes.

No ano passado, enquanto Bradesco e Itaú cresceram em torno de 20% na área de crédito, o Santander avançou 15%, segundo executivos do mercado. Eles afirmam que o banco perdeu força, em grande medida, por ter status de subsidiária no Brasil – enquanto seus principais rivais só operam localmente.

“Uma coisa é ter Roberto Setubal (Itaú) olhando só para o Brasil. Outra coisa é o Emílio Botín (controlador do Santander), preocupado com o que acontece em vários países. Isso não é bom nem ruim. É diferente. As decisões que eles tomam têm lógica”, afirma um executivo ligado ao Santander.

Conselho

No fim do ano passado, poucos dias antes do Natal, o mercado foi pego de surpresa com a notícia de que Fábio Barbosa deixaria a presidência executiva para assumir o Conselho de Administração do Santander no Brasil.

Presidente do Banco Real quando este foi comprado pelo Santander, Barbosa foi mantido pelos espanhóis no novo banco com a missão de fazer a integração entre asa duas casas. Essa tarefa, que levou mais tempo do que o previsto, terminou no mês passado.

A princípio, o mercado interpretou a mudança de Barbosa, uma celebridade no mundo empresarial, como um sinal de que os espanhóis estariam afastando os executivos brasileiros, principalmente os que vieram do Real, para acomodar profissionais enviados pela matriz.

Esse cenário, até agora, não se confirmou. José Berenguer, o novo responsável pela área de varejo, era do Real e é braço direito de Barbosa.

Interesses

Aos amigos, no entanto, Barbosa tem dito que sua mudança estava planejada há mais de um ano. Dizia que queria abrir seus horizontes e tinha outros interesses, incompatíveis com o dia a dia de um executivo de um grande banco.

Além de trabalhar no Santander, Barbosa é presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e faz parte dos conselhos da Petrobrás e da Endeavor (ONG voltada ao empreendedorismo).

Agora, no Conselho, diz que pode pensar em assuntos mais estratégicos e menos corriqueiros. “Outro dia, ele estava dizendo como era melhor discutir o futuro do cartão de crédito no celular em vez de ficar preocupado em saber quantos cartões o banco tinha vendido naquele dia”, diz um amigo do executivo.

Alexandre Schwartsman deixa o banco

Entre as mudanças anunciadas ontem pelo Santander está a saída do economista-chefe do banco, Alexandre Schwartsman. Ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, era economista-chefe para a América Latina do ABN Amro Real, e acabou assumindo o cargo no Santander quando os dois bancos uniram suas operações.

No final do mês passado, Schwartsman se envolveu em uma polêmica pública com o presidente da Petrobrás, José Sergio Gabrielli. O economista disse haver inconsistência entre a política fiscal do governo e sua estratégia expansionista e citou a capitalização da Petrobrás como exemplo de “contabilidade criativa”, no que foi contestado por Gabrielli. O bate-boca público gerou mal-estar dentro do banco.

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